Thursday, October 14, 2010

Virar a página

É fácil virar aquela página velha, o difícil é não voltar a mesma página para dar uma espiada nela. Para olhar umas anotações de caneta já borradas pelas lágrimas de quando você mudou de página pela primeira vez. Ou ver aqueles desenhos que vocês fizeram juntos e tinham tanta graça quando aquela página foi começada. Lembra de como ela era branquinha? De como cada rabisco de caneta tinha uma graça especial?
De verdade, era para essa página ser só mais uma entre todas as outras riscadas, remendadas, em branco. O grande problema foi que decidi, entre uma volta e outra, arrancar a maldita (hoje maldita) página. Rasguei, mas não amassei e joguei fora. Big mistake, huge.
A página ganhou vida própria! Virou um aviãozinho (daqueles do menino chato da escola) que ronda a minha cabeça vez ou outra. Ele é rápido, dá poucos rasantes, mas, quando eu consigo pegá-lo, ai... Desfaço o origami e posso ler tudo que está escrito lá. Os traços de amor, os rabiscos de ódio.
Daí choro, faço um barquinho bem vagabundo e jogo na correnteza do rio, na esperança de que ele nunca mais volte. Fiz isso uma vez e quase deu certo. Bom, teria dado certo se eu não tivesse nadado contra a correnteza pra pegar o barquinho. Consegui, só que, desta última vez, por causa da água, ele começou a se desmanchar. Meu papel quase não sobreviveu a essa última jornada.
Agora ele está aqui na minha mão, eu dobro, desdobro bem devagar para ele não rasgar de uma vez. Mas não consigo dar forma de nada para ele. Avião, barco, balão, pipa, nada. Talvez, se você estivesse aqui para me ajudar, esse pedaço de papel (do nosso papel) virasse algo novo, quem sabe um daqueles passarinhos de dobradura que eu sempre esqueço o nome.
Mas você não quer mais nada com esse papel velho. No seu diário, essa página já foi virada.

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